quinta-feira, setembro 01, 2016

Burkinis e comparações impossíveis


A polémica internacional da silly season é inevitavelmente a do "burkini". A dada altura, a polícia francesa começou a multar e a repreender as mulheres que andam de fato de banho integral adaptado à moral islâmica. A proibição acabou por ser revertida por decisão administrativa do Conselho de Estado, mas não impediu que a polémica continue, sobretudo nas inevitáveis "redes sociais". Ainda agora um qualquer autarca dizia que as mulheres que se queriam vestir assim podiam ir "para a Arábia Saudita".
 
Este tipo de declarações mais ou menos parvas não ajuda muito a qualquer debate. A verdade é que, ao contrário do que o ilustre autarca defende, uma qualquer comparação entre a França e a Arábia Saudita seria sempre perversa, porque poria o país da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" no mesmo plano que a terra dos wahabitas integristas. E um país de real liberdade não condiciona, à partida, o traje que as pessoas envergam. Claro que haverá excepções, no que toca à segurança (e em muitos casos a proibição de niqab integral é perfeitamente recomendável) ou ao pudor - embora haja quem exija o "direito" de andar pela rua como Deus a pôs ao mundo, como se fosse assim tão simples. Mas pôr polícia a condicionar o traje que se usa na praia lembra precisamente as brigadas contra o vício que existem em certos países islâmicos, obrigando as mulheres a "vestirem-se decentemente". Neste caso, será mais aconselhável a andarem "indecentemente", como defendia o atarantado Manuel Valls, ao fazer referência aos seios da Marianne como "símbolo da liberdade".
 
Como já se tinha visto anteriormente, para alguns a liberdade é a imposta por eles, e não a determinação individual de cada um. Poder-se-á perguntar legitimamente se as mulheres usam o "burkini" porque foram a isso obrigadas ou porque o querem. Se se tratar do segundo caso, uma situação de assunção de um dever ou de uma consciência, há que respeitá-lo. Os tão apressados defensores da liberdade que multam e repreendem as mulheres tornam-se homólogos das brigadas islâmicas da virtude.
 
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Na realidade, é mais um exemplo do jacobinismo francês, em que a tão afamada "laicidade" é na realidade uma atitude anti-religiosa disfarçada. A França é um país soberbo, a que devo boa parte da minha educação e uma língua admirável, mas tem destas grandiloquências incoerentes, em que se proclama campeã da liberdade sendo na realidade profundamente restritiva e impositiva. A imposição da um jacobinismo mal disfarçado de laicidade é um desses exemplos. De há muito que os poderes públicos convivem mal com a religião e as suas demonstrações, substituindo-as por um culto laico com o seu quê de religioso. As restrições aos "burkini" e as explicações moralistas são disso o melhor exemplo.
Preocupações estéticas? Todos as temos, mas a mim incomoda-me tanto o "burkini" como uma mulher disforme em bikini, ou a malta de tanga pele de leopardo. Claro que todos nós puxamos à memória o ditador que há em nós, e se pudéssemos apagávamos certas figuras. Mas tanto quanto sei, em países pluralistas, não é o estado que determina a estética. A solução é simples: desviar os olhos.
 
E depois, pergunto-me quantas destas mulheres serão realmente árabes de nascimento. O mais provável, respondendo ao boçal e populista "se queres usar isso vai para a tua terra", como se não houvesse mais do que uma geração de emigrantes,será "eu estou na minha terra". Valha-nos o Conselho de Estado e a sua sensatez, que anulou esta estúpida proibição. Até à próxima polémica.
 
 

Um comentário:

pvnam disse...

NÃO SÃO PARVOS
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Ora, os indivíduos naturalizados NÃO SÃO PARVOS, isto é, sabem que foram recebidos, não numa sociedade sustentável [um exemplo: a França nativa], mas sim, numa SOCIEDADE BADALHOCA:
- a sociedade (nativa) não é sustentável (média de 2.1 filhos por mulher), nela existe critica da repressão dos Direitos das mulheres... todavia, em simultâneo, para cúmulo, nela defende-se que... no aproveitar da 'boa produção' demográfica proveniente de determinados países {nota: 'boa produção' essa... que foi proporcionada precisamente pela repressão dos Direitos das mulheres - ex: islâmicos}... É QUE ESTÁ A 'SALVAÇÃO' para resolver o problema do deficit demográfico na Europa!?!?!
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Cortar com a bandalheira antes que seja tarde demais:
- http://separatismo--50--50.blogspot.com/.
[o legítimo Direito à sobrevivência das Identidades Autóctones]